domingo, 23 de setembro de 2012

Relato Audax 600km 2012



Primeiro brevet Audax 600km no Brasil.

Largada no Campus UNISC prevista para as 3h e 30 minutos do dia 15 de setembro de 2012.

Estou saindo, já atrasado de casa às 3h e 10 minutos. Pedalo para o local da largada quando toca o meu celular. Atendo, é o Claiton avisando que a bicicleta da Luiza esta com o cabo de cambio arrebentado e a do Valter com o parafuso da abraçadeira do selim sem rosca. Perderíamos dois dos seis participantes antes mesmo da largada. Decidi rápido e disse para o Claiton esperar e já avisar que a largada seria atrasada- primeira largada atrasada em um brevet que organizo. Voltei para casa, e, para ganhar tempo, deixei a bike no corredor do prédio. Fiquei com medo de perder a bicicleta que estava protegida apenas por um portão. Fui no AP e procurei nas minhas tralhas, sem sucesso,  algum cabo, ou abraçadeira. Peguei a mochila com chave carro, documentos e chave da loja. Fui andando rápido até o Campus UNISC. Deixei os passaportes e planilhas para serem entregues aos demais ciclistas, colocamos a bicicleta da Luiza no carro e peguei a abraçadeira para modelo e fomos até a loja.
Na loja fiz rapidamente a substituição do cabo de cambio e peguei outra abraçadeira do selim para substituição na bicicleta do Valter. Voltamos para o campus e fui para casa deixar o carro e buscar e minha bicicleta. Voltei pedalando para o campus, pronto para a largada. Atrasamos um pouco mais a largada para ás 4h e 30 minutos. Em um brevet UAF um atraso pode ter conseqüências mais tarde, principalmente em um brevet sem carro de apoio. Cada parada é programada para ser realizada no horário e local exato o que inclui obedecer ao horário de funcionamento dos estabelecimentos comerciais onde estas paradas são realizadas.  Este é o espírito para organizar um evento simples.
Saímos para a RST 287 que no horário tem pouco transito, em direção a Venâncio Aires. Logo no inicio a subida forte que subimos girando sem pressa para depois recuperar a média a descer. Como normalmente acontece atingimos a média prevista de 22,5 km/h antes do pedágio.  O clima estava agradável e seguimos sem dificuldade também depois em direção  ao posto de pedágio da Cruzeiro do Sul. Chegamos ao pedágio com a média de 24 km/h e realizamos uma rápida parada extra. Retornamos para Venâncio Aires e o sol apareceu tímido e lindo, grande e alaranjado no céu acinzentado. Um espetáculo que não fotografei para não atrasar o andamento, mas valeria este atraso. Chegamos ao restaurante Casa Cheia com alguns minutos antes do horário previsto. Parada de 20 minutos, mais alguns de atraso. 
Percurso do Casa Cheia até o Pesque e Pague Panorama foi tranqüilo. No PPP ( Pesque e Pague Panorama) realizamos mais uma parada rápida de 20 minutos. Sanduba inflacionado degustado e seguimos viagem. O sol não apareceu mais, o vento parou e ficou mais abafado. A chuva estava por chegar e a cor do céu no horizonte foi mudando. Mais uma parada de 20 minutos no Posto em General Câmara e seguimos retornando para o PPP.  Chegamos pedalando rápido para fugir da chuva. Parada de uma hora para almoço.

 Massa e pepão, não adianta era hora de enfrentar a chuva. Depois de ter pedalado 180 km estavam faltando 160 km para completar o percurso previsto para o dia, ou seja, antes da parada programada para o pernoite. Logo no reinicio do percurso o Alexandre estourou um pneu. O Valter ficou para ajudar e eu não sabendo o que havia acontecido resolvi parar o pelotão. Tirei o ciclo computador e retornei aproximadamente 1 km para descobrir o que havia acontecido. Grupo reunido, seguimos novamente juntos. Aviso: o pelotão não para quando acontece algum problema mecânico a algum ciclista.  Chegamos até Vale Verde sem mais dificuldade, mas a chuva aumentou e começamos a brincar, pois a previsão era de 4mm de chuva para o dia todo, mas a chuva estava forte. Chegamos a Pinheiral no Posto Kastel, local de mais uma parada de 20 minutos. 

Rodovia pedagiada com acostamento porcaria, com muita chuva. Fiz mais uma foto do grupo que e seria a última antes da parada de pernoite.O Alexandre ligou para a loja e eu autorizei a ele sair na frente para esperar a chegada do pneu de substituição em local mais próximo a fim de ganhar tempo para a troca. Chovia forte e partimos em direção a Santa Cruz onde avistávamos o céu escuro e muitos relâmpagos. A chuva forte, melhor, tempestade era certa, mas acreditávamos serem apenas algumas nuvens de passagem e na possibilidade de nem enfrentarmos muitas dificuldades.
Partimos do Posto Kastel com chuva forte e a maior dificuldade foi o acostamento que não existe nas curvas com a terceira faixa da subida para Linha Santa Cruz. A descer disse para os ciclistas terem cuidado com o transito, sujeira na pista e possibilidade de tombos. Desci freando e com cuidado. Seguimos para Sinimbu e o céu estava escuro a noite chegou, mas a escuridão também era das nuvens pretas. A chuva caia “despejada com balde” e a escuridão era iluminada por alguma luz de veiculo passando, mas principalmente por relâmpagos. Raios, trovoadas e água foram constantes até Sinimbu, apesar disto eu cuidava para não andar acima da média de 22,5 km/h, pois tinha certeza que o Alexandre deveria nos alcançar em breve. Os raios caiam a todo instante e sempre perto. A estrada para Sinimbu segue a várzea o Rio Pardinho e a pouca distancia em ambos os lados existem morros, pois os raios estavam caindo antes dos morros que ficavam iluminados antes da cada trovão. Muita chuva e muitos raios, não é exagero repetir, apesar disto ficava mais preocupado com os demais ciclistas e com os veículos que passaram. Medo dos raios eu não cheguei a ficar e nem consigo explicar isto, talvez por que gosto da chuva e me sinto protegido em cima da bicicleta em relação às coisas da natureza. Deus é espírito e bondade, sua criação e uma das ferramentas para testar os homens é a natureza. Acredito que DEUS goste de mim, pois gosto dele e tento respeitá-lo. Tenho mais medo das coisas do homem. 

Chegamos a Sinimbu e fiz uma rápida parada para conferir se o grupo estava unido. Iniciamos o retorno e logo avistamos o Alexandre que estava chegando.  Voltamos mais juntos, a passagem de veículos parou a chuva aumentou a descer a visão estava muito limitada e rosto dolorido dos pingos. Ofereci carona para Santa Cruz a um grupo de pessoas que tentava não se molhar em baixo de uma parada de ônibus. O Claiton disse que deveríamos parar em algum lugar e sugeriu o mercado do Sr Mário em Rio Pardinho.
Realizamos uma parada extra em Rio Pardinho. Chegamos no local com aproximadamente 10 minutos de atraso no tempo previsto, nem poderia ser diferente com aquela chuva. Parada extra incluída por segurança. Paramos aproximadamente 20 minutos, o suficiente para a chuva reduzir um pouco, lubrificar as correntes, comer algo e sentir-se um pouco mais protegido. 

Cheguei o mercado, avistei o seu Mário e perguntei se tinha Audax hoje. Ele me disse hoje não tem Audax. Seu Mário sempre relembra o brevet 600km de 2006 quando realizamos um PC no local e não esquece a chegada de uma ciclista na madrugada ( será que a Esther Galbiski lembra do local?).  Eu respondi que tinha Audax sim, pois estávamos ali, apesar da tempestade. Fiz algumas fotos no local e prometi que a próxima vez que fosse a Rio Pardinho caminhando eu levaria estas impressas de presente.
Novamente na estrada em direção a Santa Cruz do Sul. A chuva continuava forte, mas os raios estavam mais longe. Chegamos em Santa Cruz do Sul e dois, ou três ciclistas já falavam em desistir. Disse para desistirmos depois do pernoite e que faltavam mais um 60km. Não era tarde, mas representava ser madrugada e os 60 quilômetros restantes representavam ser impossíveis de ser pedalado, puro reflexo do momento.
Seguimos  para Vera Cruz onde havia outra parada programada. Paramos rapidamente no Posto de combustível já que a padaria estava fechada depois das 20h. Tomamos um café gratuito e presenciamos a chegada de mais uma chuva forte. Fiz uma alteração no percurso e utilizamos mais a rodovia RS 412 que possui melhor acostamento e excluí parte do percurso para Cerro Alegre Baixo. Seguimos observando  tempestade elétrica que acontecia junto na direção para a qual seguíamos.  O Claiton a Luiza e o Alexandre disseram não largar na madrugada seguinte em caso de chuva ou raios e trovoadas. Seguimos até a Cemitério dos Lopes, Distrito Industrial e centro de Santa Cruz do Sul.
Chegamos no Hotel Antonios com 30 minutos de atraso conforme o tempo previsto. Combinamos a re-largada às 4h da manhã ali no mesmo local.  Fizemos uma foto do grupo e segui para casa. 

Em casa deu tempo de tomar um banho quente, colocar a roupa molhada e suja de molho, comer algo e dormir umas 3 horas.
Acordei escutando trovoadas, coloquei a roupa seca e mais proteção contra chuva, tomei um café e segui para a hotel onde encontrei o Vitor e Valter no café. Alexandre, Luiza e Claiton não apareceram. Saímos no horário previsto 4:30h. Seguimos em direção a Rio Pardo e o previsto seria ir a Encruzilhada do Sul e retornar.
Seguíamos em silencio, não estava ventando e nem chovendo, mas o cenário não era nada animador, tempestade elétrica com muitos raios e céu escuro em quase todas as direções. A única direção que não havia escuridão e raios era nas nossas costas, em direção a Venâncio Aires onde era possível avistar a Estrela Dalva (Venus).  Seguia pensando sobre o que representava completar um brevet, ou não e lembrava que os brevets eram uma boa desculpa para pedalar mais e não ficar parado. Seguir para Rio Pardo região de mais campo com aquela tempestade que se aproximava a com a noção de que teríamos mais um dia inteiro em tais condições. Resolvi fazer uma alteração de emergência no percurso, consultei os demais ciclistas que logo concordaram em irmos em direção a Lajeado e depois novamente a Vale Verde. Ao menos seria uma possibilidade de não enfrentarmos tempestade. Retornamos para Santa Cruz do Sul. O Vitor me falava sobre algumas participações em breves que fez apenas por prazer de pedalar. Ele é um dos melhores  randonneurs que conheço e tem um conhecimento exato do que é participar de um brevet. Falava que o importante é participar por gostar de pedalar e que participar era mais importante do que o valor da medalha, ou da homologação. Palavras semelhantes ao que vinha refletindo antes. Quando chegamos novamente na cidade a tempestade de raios acontecia de todos os lados. O Vitor disse que havia considerado perigosa a noite anterior e que não gostaria de fazer o mesmo no dia. Iria ficar no hotel. Seguindo o regulamento do Audax no mínimo três ciclistas devem completar o brevet para ser válido. Poderia ter insistido para continuarmos, mas também concordava a considerava perigoso seguir. O importante é pedalar a já estava contente em ter pedalado 365km de maneira tão diferente e com bons companheiros. Tinha certeza que ficaria triste por ainda não termos algum brevetado em um Audax 600km, mas também sabia que o brevet havia sido realizado e tinha sido como tinha que ser. O Audax é um desafio com dia e hora marcada o que pode torná-lo muito difícil, pois depende do clima. Desta vez não demos sorte. Em condições melhores teria sido muito tranqüilo completar os 600km de forma programada. O Valter não ficou muito feliz com a idéia de desistir, mas não reclamou.
Depois de um pouco de conversa segui para casa, o dia clareando, sem chuva e sem trovoadas. O tempo representava melhorar, as ruas desertas e a temperatura agradável. Fiquei com vontade de continuar pedalando, mas resolvi ir para casa. Em casa fiquei um bom tempo arrumando as coisas e lavando algumas roupas entes de ir dormir com a sensação de que não deveríamos ter desistido. Me acordei antes das 9h da manhã com o barulho do vento, trovoadas e da chuva forte. Choveu durante todo o domingo, choveu muito e com muito vento. Olhava para a rua e lembrava que havíamos realizado a escolha certa. Parar foi mais seguro. Não foi mais questão de força, de vontade, de perna, de psicológico, mas de sobrevivência.
Atendi um cliente de Rio Pardinho na segunda de manhã.
Ele motorista consciente faz pouco tempo atropelou um cavalo quando voltava para casa a noite. Também contou que castrou o cachorro que tem preso no pátio de casa, pois o mesmo “vivia fugindo e andando no asfalto”, podendo causar um acidente, como disse: “poderia derrubar um motociclista”. Contou, sem saber com quem estava falando: “sábado à noite estava indo para casa a tardinha e encontrei um grupo de ciclistas pedalando durante aquela chuva, que perigo, eu gritei vocês querem morrer! Aquela reta ali é muito perigosa, o pessoal anda demais e geralmente tem cachorro, cavalo, vaca, tem de tudo na estrada, com tempo bom até dá para andar, mas com chuva e os vidros embaciados do carro quase não se avista os ciclistas que estavam enfileirados. Se atropela um atropela todos e só se vê as luzinhas piscando quando se esta em cima”.

Agora é pensar no calendário de 2013 e em uma próxima tentativa.
Luiz M. Faccin
Setembro de 2012.



2 comentários:

Carlos Polesello disse...

Fizeram a coisa certa.

Breno Moreira disse...

É isso aí Luiz. Novamente a regra 31 mostrou-se tremendamente oportuna. Fico até com vontade sair pedalando por aí...
Parabéns.