terça-feira, 10 de julho de 2012

Relato Audax Caminhada 100km- Luiz


No dia 20 de maio fiz uma caminhada de 50km utilizando basicamente o percurso final do brevet de 100km,  nos horários aproximados em que seriam caminhados. Neste dia senti um pouco o calor e o sol, mas nada de extraordinário. Outra dificuldade, os últimos 30km caminhei sozinho e na reta do Rio Pardinho senti mais a queda da moral. A reta de 4 km parece não ter fim e isto, psicologicamente falando, é ruim,  deveria ser ainda mais no final do brevet de 100km. No domingo à tarde o transito de veículos aumenta muito na estrada de Rio Pardinho. M esmo no asfalto a caminhada fica mais difícil, pois somos obrigados a caminhar no acostamento estreito, que nem sempre é bom, mas tem muitos trechos irregulares, com pedras e buracos.  No Bar Rodrigues, na Linha Travessa, me descuidei e esqueci de reabastecer a água do reservatório da mochila, resultado, os últimos 7km fiz sem beber e senti a diferença, ou seja, o aumento do desgaste físico.
Quando estava caminhando na Linha Travessa, utilizando óculos, um pequeno cascudinho/inseto entrou em meu olho direito. Tentei tirar sem sucesso, mas continuei caminhando sem sentir. Depois de chegar a casa o olho estava dolorido e tentei de todas as formas tirar o inseto do olho, cada vez ficava mais dolorido. Fui dormir com o inseto no olho. Na segunda feira coloquei colírio, lavei o olho e o inseto finalmente saiu, mas o olho continuou dolorido. Na segunda à tarde e terça feira estava com o olho infeccionado- conjuntivite química.  Caminhei  50km e o que mais me causou transtorno foi um pequeno inseto! Lembrei do brevet de 75 quando tive problemas estomacais. Lembrei do brevet de 50km noturno com chuva e barro. Cada brevet apresenta uma situação diferente de dificuldade e é preciso ter experiência a paciência para superar o desafio
Realizamos outros treinos noturnos e nestes treinos pude tirar mais algumas conclusões. Temos um grupo bem experiente e consciente do que vai enfrentar,  isto é importante e ficou visível nas conversas das ultimas caminhadas realizadas e também nos contatos por internet. Acredito que motivação não irá faltar. Torcia para que não tivéssemos problemas extras. Mais do que qualquer medalha, homologação ou nome em livro, seria um privilegiado de poder caminhar com este grupo tão legal.
Neste ano de 2012, antes de caminhar o brevet de 100km já contabilizava 409km realizados em caminhadas programadas. Em 2012 já havia caminhado dois brevets de 25km, dois de 50km e um de 75km.
O brevet
O percurso do brevet estava devidamente estudado, as opções de paradas bem definidas, etc. Eu estava confiante, mas ansioso, queria caminhar logo este brevet que já havia sido adiado.
Nove participantes estavam na UNISC para a largada e como sempre foi realizada no horário previsto. Os primeiros quilômetros urbanos até a primeira parada foram tranqüilos. Depois da paradinha enfrentaríamos um percurso mais longo sem parar, mas já havíamos caminhado este percurso em condições mais difíceis.
Pouco mais de duas horas de caminhada e chegamos no Sítio do Baleia, local pouco usado por seres humanos, mas muito por roedores. Uma parada longa de 25 minutos com café, bolo, salgado, pão e outras regalias só possíveis porque lá estava nos esperando um voluntário eficiente e prestativo com tudo pronto. Foi uma parada importante e no momento certo.
Após esta parada enfrentamos o trecho mais difícil do brevet, ao menos na teoria, com estradas de terra na “escuridão da madrugada” iluminada por lanternas. Com as alterações realizadas no percurso reduzi o trajeto nestas estradas e adicionei uma parada mais próxima no inicio do percurso em asfalto.
Paradinha no carro de apoio e até sobrou um tempinho para sentar em um dos banquinhos e também para ver a figura mais enigmática dos Audax que resolveu aparecer. Aparição rara já que a ultima do fantasma do Audax foi em 2006. Retornamos a caminhada no asfalto e a próxima não seria longe. A parada na entrada do autódromo foi mais uma bem estratégica, apesar do lugar ½ ermo e “perigoso”. Mais café, alongamento, barras de cereal, repor a água e sair para o percurso de mais de 12 km no asfalto, nada assustador, mas na experiência anterior enfrentamos chuva que escondeu o céu e dificultou a noção do andamento. Desta vez enfrentamos frio e um pouco de neblina, mas estávamos acompanhados também de um céu estrelado e da Estrela Dalva que nos indicava o caminho para Vera Cruz até o amanhecer. Um subidinha longa para deixar alguns mais atrasados. Várias paradas para xixi, mas tinha alguém fazendo mais paradas e reclamando de dores no ventre! Uma parada na rotula para Vila Progresso e Vera Cruz e desta vez fui eu que tive que enviar um “Fax para Boston” que foi bem importante para aliviar o peso e garantir um bom andamento.
O brevet de 100km teve 14 paradas programadas e se eu for descrever cada uma destas vou ficar apenas escrevendo as paradas e vai representar que nem caminhamos. A parada foi importante para juntar o grupo, mas os mais atrasados logo voltaram a ficar uma centena de metros do grupinho dos primeiros. O dia clareou e avistamos alguma coisa semelhante à geada, mas o frio não atrapalhou e só favoreceu o andamento.
Chegamos na padaria Roque Schuch para a parada mais longa do brevet, 35 minutos. O Schuch Padeiro atrasou para a abrir a padaria e não gostou que eu disse o Schuch antes da sua profissão. Enquanto esperávamos o Fantasma apareceu novamente, mas ficou bem comportado esperando. Mais café, pastel e outros reforços para encher a pança, teve alguém comendo até espetinho de carne. Vou uma parada para recuperar as energias.
De parada em parada já havíamos completado 50% do percurso, com certeza a parte mais fácil, mas eu estava bem e sem sono. Era dia e tínhamos o dia todo para caminhar 50km e isto era uma maneira boa de pensar. Saímos de Vera Cruz passando na famosa caixa d’água e seguindo no caminhódromo. Nome esquisito e lugar bonito, mas o caminho e os caminhantes merecem uma pavimentação melhor. Percurso plano até alguns metros antes da Cascata do Franck local da próxima parada. Retorno para a Ponte Andréas, e seguir na Linha Borges de Medeiros. Interior de Vera Cruz com paisagens bonitas e estradas boas. Chegamos próximo ao Rio Pardinho e no município de Santa Cruz do Sul, onde as estradas já não são tão boas. O frio da manhã estava indo e deixamos algumas roupas mais quentes no carro de apoio.  
Seguimos a passo firme e por um erro meu ficamos 10 minutos atrasados já que somei errado os tempos, nada grave. Próxima parada no Salão Pancke, logo depois da ponte metálica sobre o Rio Pardinho e o pessoal já estava ficando com cara de cansado. O percurso neste trecho seguia o rio na antiga estrada para Sinimbu, local bonito, estrada sem movimento de carros. Neste local sempre fico lembrando quando cruzava por ali com a minha bicicleta Caloi Cruiser sem câmbios retornando do banho de rio com a cara cheia de poeira, velhos tempos de juventude, agora que estou mais velho passo caminhando! Saindo da estrada antiga seguimos na nova asfaltada em direção a Rio Pardinho. Parada na Casa das Cucas e seguir logo para o Restaurante Verde Vale.
Chegar no restaurante já era uma vitória de completar 75 km. Chegar bem era importante, e sair no horário previsto também. O grupinho da frente chegou no horário certo e pode aproveitar os 28 minutos da parada, outros chegaram com até 10 minutos de atraso. Quem continuasse caminhando depois deste ponto completaria os 100km. Quem estivesse bem teria menos probabilidade de enfrentar mais problemas depois. Cheguei, tirei os calçados, lavei as mãos e fui me servir no Buffet. Usamos a mesa na parte externa apesar do “frio”. O Rodinei fisioterapeuta ficou cuidando dos pés dos caminhantes colocando gelo e alongando. Os rostos eram de dor. Três dos recém chegados, de forma bem consciente e madura desistiram de seguir. Repeti o prato no Buffet e fiquei com vontade de me servir de uns 50% dos 12 tipos de sobre mesa, mas fui lavar o rosto, abastecer o reservatório de água alongar um pouco para reiniciar a caminhada. Nem cheguei a ser atendido por fisioterapeuta e saímos. Os meus companheiros de caminhada de Santa Cruz estavam muito decididos e conscientes dos desafios de caminhar 100km. Estão de parabéns e deveriam servir de modelo para muito ciclista que participa dos brevets de andamento livre, ficando horas torrando tempo em coisas supérfluas na parada no PC. Um aprendizado ver a motivação deste grupinho.
Depois do almoço de clima pouco mais quente senti um pouco mais, mas foi só a massa assentar para ficar melhor. Seguimos em direção a Sininbu, depois entramos na Linha Verão até o Rio Pardinho, local muito bonito e típico do interior deste município.
Retornamos para o asfalto e para Rio Pardinho. A parada programada para o Salão Regert resolvemos transferir para o restaurante onde pude deitar um pouco e erguer as pernas. Retornamos para Rio Pardinho e realizamos outra parada na Casa das Cucas onde os pés já pediam um descanso. Neste ponto devia ter efetuado a troca da meia por uma seca, mas achei que estava bom. A Luiza estava comemorando o dia de São João com um visual caipira interessante com Crocs verde, meias cinzas sobre as calças de lycra, camisa, boné, óculos escuros e flor no cabelo.
Chegamos no reta próximo a entrada para a Linha Travessa, o sol estava quente e eu sentia o calor, o cansaço e o atrito do pé com a meia molhada do suor. Chegamos no Bar Rodrigues na linha Travessa depois de 1500m de estrada de terra com cascalhos.
Ultima parada, faltava muito pouco, mas ainda era longe e não perdemos o foco. Chegando no bar fui direto lavar a cabeça com água gelada para refrescar e depois comer algo salgado que fiz com certa dificuldade. Usei uma pastilha de sal e reabasteci a água do reservatório, demorei um pouco e o grupo já tinha saído.
Melhorei bastante, a bolha que estava se formando no pé esquerdo não atrapalhava, o sal me ajudou muito e a água na cabeça também. Sai decidido a alcançar os demais, e logo depois  encontrei o Marcio que estava chegando no PC. Avisei que estávamos com mais de 15 minutos de folga em relação ao tempo máximo de 20 horas, e também que estaríamos esperando um pouco antes da chegada até às 18:03. Ele disse que até 18horas chegaria na UNISC. Cheguei no asfalto, mas não consegui recuperar a distancia em relação aos demais participantes. Resolvi correr até alcançar o pelotão dianteiro – alguns perguntavam se não era possível correr  no Audax 100km e eu respondia que poderia até alcançar o pelotão em caso de atraso. Estava correndo e alguns ciclistas de cidade estavam cruzando com as bikes retornando para casa. Foi uma sensação estranha, pois eles estavam fazendo uns 40km de bike e eu correndo depois de ter caminhado mais de 90km. O Fernando parou para nos alcançar bergamotas. Outros passaram gritando e perguntando sobre o brevet.
Sofri do km 80 até o 93,5 que foram os mais difíceis para mim. Estava um pouco cansado, mas não estava tão mal. Segui junto com o Alan e chegamos no Portão da UNISC. Fiquei sentado na parada de ônibus esperando e cuidando o horário. Às 18 horas o Marcio surgiu acompanhado pelo ciclista Pancke. Entramos juntos no portão do campus e seguimos até o mesmo local da largada.
Completamos o Audax Caminhada 100km.
A premiação foi logo em seguida e a medalha com relevo de águia ficou bonita no peito de cada um.
Este foi o primeiro brevet Audax Marcha 100km realizado fora da Europa;
Este brevet nos garante o nome no livro das homologações do Audax Marche que foi criado em 1904 e é mantido pela União dos Audax Franceses. Entramos para a história, mesmo que apenas na história da UAF, mesmo que apenas nesta modalidade;
Temos a possibilidade de conseguir a medalha Águia de Bronze Audax Marche da UAF. Com a conclusão deste brevet completei todos os brevets necessários para realizar o pedido desta medalha inédita.
Depois do brevet de 100km fiquei pensando na possibilidade de aproveitar o treino e a oportunidade para caminhar um brevet de 150km. Com certeza teria dificuldade de conseguir companheiros, mas esta ideia não esta fora dos meus pensamentos...
Na semana seguinte estava muito bem e com saudades de uma caminhada longa

Luiz Maganini Faccin
Águia de Bronze Audax Marcha
Randonneur 5000
Representante UAF Brasil
Junho 2012.

Um comentário:

Breno Moreira disse...

Pois é Sr. Luiz Caminhante...
Lendo assim, tudo tão pedagógico, parece ser muito fácil! A dor é inevitável, o sofrimento, opcional.
Parabéns. E não demore ir aos 150...
Grande abraço.