No dia 20
de maio fiz uma caminhada de 50km utilizando basicamente o percurso final do
brevet de 100km, nos horários
aproximados em que seriam caminhados. Neste dia senti um pouco o calor e o sol,
mas nada de extraordinário. Outra dificuldade, os últimos 30km caminhei sozinho
e na reta do Rio Pardinho senti mais a queda da moral. A reta de 4 km parece
não ter fim e isto, psicologicamente falando, é ruim, deveria ser ainda mais no final do brevet de
100km. No domingo à tarde o transito de veículos aumenta muito na estrada de
Rio Pardinho. M esmo no asfalto a caminhada fica mais difícil, pois somos
obrigados a caminhar no acostamento estreito, que nem sempre é bom, mas tem
muitos trechos irregulares, com pedras e buracos. No Bar Rodrigues, na
Linha Travessa, me descuidei e esqueci de reabastecer a água do reservatório da
mochila, resultado, os últimos 7km fiz sem beber e senti a diferença, ou seja,
o aumento do desgaste físico.
Quando
estava caminhando na Linha Travessa, utilizando óculos, um pequeno
cascudinho/inseto entrou em meu olho direito. Tentei tirar sem sucesso, mas
continuei caminhando sem sentir. Depois de chegar a casa o olho estava dolorido
e tentei de todas as formas tirar o inseto do olho, cada vez ficava mais
dolorido. Fui dormir com o inseto no olho. Na segunda feira coloquei colírio,
lavei o olho e o inseto finalmente saiu, mas o olho continuou dolorido. Na
segunda à tarde e terça feira estava com o olho infeccionado- conjuntivite
química. Caminhei 50km e o que mais me causou transtorno foi um
pequeno inseto! Lembrei do brevet de 75 quando tive problemas estomacais.
Lembrei do brevet de 50km noturno com chuva e barro. Cada brevet apresenta uma
situação diferente de dificuldade e é preciso ter experiência a paciência para
superar o desafio
Realizamos
outros treinos noturnos e nestes treinos pude tirar mais algumas conclusões. Temos um
grupo bem experiente e consciente do que vai enfrentar, isto é importante
e ficou visível nas conversas das ultimas caminhadas realizadas e também nos
contatos por internet. Acredito que motivação não irá faltar. Torcia para que
não tivéssemos problemas extras. Mais do que qualquer medalha, homologação ou
nome em livro, seria um privilegiado de poder caminhar com este grupo tão
legal.
Neste
ano de 2012, antes de caminhar o brevet de 100km já contabilizava 409km
realizados em caminhadas programadas. Em 2012 já havia caminhado dois brevets de
25km, dois de 50km e um de 75km.
O brevet
O
percurso do brevet estava devidamente estudado, as opções de paradas bem
definidas, etc. Eu estava confiante, mas ansioso, queria caminhar logo este
brevet que já havia sido adiado.
Nove
participantes estavam na UNISC para a largada e como sempre foi realizada no
horário previsto. Os primeiros quilômetros urbanos até a primeira parada foram tranqüilos.
Depois da paradinha enfrentaríamos um percurso mais longo sem parar, mas já havíamos
caminhado este percurso em condições mais difíceis.
Pouco
mais de duas horas de caminhada e chegamos no Sítio do Baleia, local pouco
usado por seres humanos, mas muito por roedores. Uma parada longa de 25 minutos
com café, bolo, salgado, pão e outras regalias só possíveis porque lá estava
nos esperando um voluntário eficiente e prestativo com tudo pronto. Foi uma
parada importante e no momento certo.
Após
esta parada enfrentamos o trecho mais difícil do brevet, ao menos na teoria,
com estradas de terra na “escuridão da madrugada” iluminada por lanternas. Com
as alterações realizadas no percurso reduzi o trajeto nestas estradas e
adicionei uma parada mais próxima no inicio do percurso em asfalto.
Paradinha
no carro de apoio e até sobrou um tempinho para sentar em um dos banquinhos e
também para ver a figura mais enigmática dos Audax que resolveu aparecer.
Aparição rara já que a ultima do fantasma do Audax foi em 2006. Retornamos a
caminhada no asfalto e a próxima não seria longe. A parada na entrada do autódromo
foi mais uma bem estratégica, apesar do lugar ½ ermo e “perigoso”. Mais café,
alongamento, barras de cereal, repor a água e sair para o percurso de mais de
12 km no asfalto, nada assustador, mas na experiência anterior enfrentamos
chuva que escondeu o céu e dificultou a noção do andamento. Desta vez
enfrentamos frio e um pouco de neblina, mas estávamos acompanhados também de um
céu estrelado e da Estrela Dalva que nos indicava o caminho para Vera Cruz até
o amanhecer. Um subidinha longa para deixar alguns mais atrasados. Várias
paradas para xixi, mas tinha alguém fazendo mais paradas e reclamando de dores
no ventre! Uma parada na rotula para Vila Progresso e Vera Cruz e desta vez fui
eu que tive que enviar um “Fax para Boston” que foi bem importante para aliviar
o peso e garantir um bom andamento.
O
brevet de 100km teve 14 paradas programadas e se eu for descrever cada uma
destas vou ficar apenas escrevendo as paradas e vai representar que nem
caminhamos. A parada foi importante para juntar o grupo, mas os mais atrasados
logo voltaram a ficar uma centena de metros do grupinho dos primeiros. O dia
clareou e avistamos alguma coisa semelhante à geada, mas o frio não atrapalhou
e só favoreceu o andamento.
Chegamos
na padaria Roque Schuch para a parada mais longa do brevet, 35 minutos. O
Schuch Padeiro atrasou para a abrir a padaria e não gostou que eu disse o
Schuch antes da sua profissão. Enquanto esperávamos o Fantasma apareceu
novamente, mas ficou bem comportado esperando. Mais café, pastel e outros
reforços para encher a pança, teve alguém comendo até espetinho de carne. Vou
uma parada para recuperar as energias.
De
parada em parada já havíamos completado 50% do percurso, com certeza a parte
mais fácil, mas eu estava bem e sem sono. Era dia e tínhamos o dia todo para
caminhar 50km e isto era uma maneira boa de pensar. Saímos de Vera Cruz passando
na famosa caixa d’água e seguindo no caminhódromo. Nome esquisito e lugar
bonito, mas o caminho e os caminhantes merecem uma pavimentação melhor.
Percurso plano até alguns metros antes da Cascata do Franck local da próxima parada.
Retorno para a Ponte Andréas, e seguir na Linha Borges de Medeiros. Interior de
Vera Cruz com paisagens bonitas e estradas boas. Chegamos próximo ao Rio
Pardinho e no município de Santa Cruz do Sul, onde as estradas já não são tão
boas. O frio da manhã estava indo e deixamos algumas roupas mais quentes no
carro de apoio.
Seguimos
a passo firme e por um erro meu ficamos 10 minutos atrasados já que somei
errado os tempos, nada grave. Próxima parada no Salão Pancke, logo depois da
ponte metálica sobre o Rio Pardinho e o pessoal já estava ficando com cara de
cansado. O percurso neste trecho seguia o rio na antiga estrada para Sinimbu,
local bonito, estrada sem movimento de carros. Neste local sempre fico
lembrando quando cruzava por ali com a minha bicicleta Caloi Cruiser sem câmbios
retornando do banho de rio com a cara cheia de poeira, velhos tempos de
juventude, agora que estou mais velho passo caminhando! Saindo da estrada
antiga seguimos na nova asfaltada em direção a Rio Pardinho. Parada na Casa das
Cucas e seguir logo para o Restaurante Verde Vale.
Chegar
no restaurante já era uma vitória de completar 75 km. Chegar bem era
importante, e sair no horário previsto também. O grupinho da frente chegou no
horário certo e pode aproveitar os 28 minutos da parada, outros chegaram com
até 10 minutos de atraso. Quem continuasse caminhando depois deste ponto
completaria os 100km. Quem estivesse bem teria menos probabilidade de enfrentar
mais problemas depois. Cheguei, tirei os calçados, lavei as mãos e fui me
servir no Buffet. Usamos a mesa na parte externa apesar do “frio”. O Rodinei
fisioterapeuta ficou cuidando dos pés dos caminhantes colocando gelo e
alongando. Os rostos eram de dor. Três dos recém chegados, de forma bem
consciente e madura desistiram de seguir. Repeti o prato no Buffet e fiquei com
vontade de me servir de uns 50% dos 12 tipos de sobre mesa, mas fui lavar o
rosto, abastecer o reservatório de água alongar um pouco para reiniciar a
caminhada. Nem cheguei a ser atendido por fisioterapeuta e saímos. Os meus
companheiros de caminhada de Santa Cruz estavam muito decididos e conscientes
dos desafios de caminhar 100km. Estão de parabéns e deveriam servir de modelo
para muito ciclista que participa dos brevets de andamento livre, ficando horas
torrando tempo em coisas supérfluas na parada no PC. Um aprendizado ver a
motivação deste grupinho.
Depois
do almoço de clima pouco mais quente senti um pouco mais, mas foi só a massa assentar
para ficar melhor. Seguimos em direção a Sininbu, depois entramos na Linha
Verão até o Rio Pardinho, local muito bonito e típico do interior deste
município.
Retornamos
para o asfalto e para Rio Pardinho. A parada programada para o Salão Regert
resolvemos transferir para o restaurante onde pude deitar um pouco e erguer as
pernas. Retornamos para Rio Pardinho e realizamos outra parada na Casa das
Cucas onde os pés já pediam um descanso. Neste ponto devia ter efetuado a troca
da meia por uma seca, mas achei que estava bom. A Luiza estava comemorando o
dia de São João com um visual caipira interessante com Crocs verde, meias
cinzas sobre as calças de lycra, camisa, boné, óculos escuros e flor no cabelo.
Chegamos
no reta próximo a entrada para a Linha Travessa, o sol estava quente e eu
sentia o calor, o cansaço e o atrito do pé com a meia molhada do suor. Chegamos
no Bar Rodrigues na linha Travessa depois de 1500m de estrada de terra com
cascalhos.
Ultima
parada, faltava muito pouco, mas ainda era longe e não perdemos o foco.
Chegando no bar fui direto lavar a cabeça com água gelada para refrescar e
depois comer algo salgado que fiz com certa dificuldade. Usei uma pastilha de
sal e reabasteci a água do reservatório, demorei um pouco e o grupo já tinha saído.
Melhorei
bastante, a bolha que estava se formando no pé esquerdo não atrapalhava, o sal
me ajudou muito e a água na cabeça também. Sai decidido a alcançar os demais, e
logo depois encontrei o Marcio que
estava chegando no PC. Avisei que estávamos com mais de 15 minutos de folga em
relação ao tempo máximo de 20 horas, e também que estaríamos esperando um pouco
antes da chegada até às 18:03. Ele disse que até 18horas chegaria na UNISC.
Cheguei no asfalto, mas não consegui recuperar a distancia em relação aos
demais participantes. Resolvi correr até alcançar o pelotão dianteiro – alguns perguntavam
se não era possível correr no Audax
100km e eu respondia que poderia até alcançar o pelotão em caso de atraso.
Estava correndo e alguns ciclistas de cidade estavam cruzando com as bikes
retornando para casa. Foi uma sensação estranha, pois eles estavam fazendo uns
40km de bike e eu correndo depois de ter caminhado mais de 90km. O Fernando parou
para nos alcançar bergamotas. Outros passaram gritando e perguntando sobre o
brevet.
Sofri
do km 80 até o 93,5 que foram os mais difíceis para mim. Estava um pouco
cansado, mas não estava tão mal. Segui junto com o Alan e chegamos no Portão da
UNISC. Fiquei sentado na parada de ônibus esperando e cuidando o horário. Às 18
horas o Marcio surgiu acompanhado pelo ciclista Pancke. Entramos juntos no
portão do campus e seguimos até o mesmo local da largada.
Completamos
o Audax Caminhada 100km.
A
premiação foi logo em seguida e a medalha com relevo de águia ficou bonita no
peito de cada um.
Este foi
o primeiro brevet Audax Marcha 100km realizado fora da Europa;
Este
brevet nos garante o nome no livro das homologações do Audax Marche que foi
criado em 1904 e é mantido pela União dos Audax Franceses. Entramos para a
história, mesmo que apenas na história da UAF, mesmo que apenas nesta
modalidade;
Temos a
possibilidade de conseguir a medalha Águia de Bronze Audax Marche da UAF. Com a
conclusão deste brevet completei todos os brevets necessários para realizar o
pedido desta medalha inédita.
Depois
do brevet de 100km fiquei pensando na possibilidade de aproveitar o treino e a
oportunidade para caminhar um brevet de 150km. Com certeza teria dificuldade de
conseguir companheiros, mas esta ideia não esta fora dos meus pensamentos...
Na
semana seguinte estava muito bem e com saudades de uma caminhada longa
Luiz
Maganini Faccin
Águia
de Bronze Audax Marcha
Randonneur
5000
Representante
UAF Brasil
Junho
2012.
Um comentário:
Pois é Sr. Luiz Caminhante...
Lendo assim, tudo tão pedagógico, parece ser muito fácil! A dor é inevitável, o sofrimento, opcional.
Parabéns. E não demore ir aos 150...
Grande abraço.
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